sexta-feira, 26 de outubro de 2007

TUNTUNCA MUQUIRANA COMPÕE UM NOVO BAIÃO

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http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=40605150


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TUNTUNCA MUQUIRANA COMPÕE UM NOVO BAIÃO

(Para Valdecirio Teles Veras)

Tuntunca Muquirana, maior tocador de triângulo de Curiapeba, apaniguado de Maninha de Matos Sampaio e do prefeito Antonio Polissílabo Saraiva, naquela manhã ensolarada, cheirando a flores de umbu, manga e maracujá, após passar a noite em claro, ao lado da sua azeda esposa, Dozinha Ramahoje Adelatrove de Jesus Malhado, num zero a zero preocupante, que já vinha se arrastando há semanas, levantou-se meio entiriçado, com fortes dores no espinhaço, gosto de cabo de guarda-sol na boca, foi à privada, lavou o rosto, escovou os dentes, tomou uma xícara de café forte, sentou-se à mesa da sala e compôs o melhor baião de sua vida: “Mulé Ingrata”. – “Mulé, eu não suporto mais a tua ingratidão / Serpente venenosa do fundo do sertão”. Leu, releu, burilou algumas arestas e em seguida cantou toda a melodia, acompanhada pela batida do triângulo. Constatou que havia composto uma obra-prima e se aprontou, quase em êxtase, esperando que a noite descesse, a fim de ir ao Bar do João Emílio Krauser, ali na Praça das Boiadas, pertinho da “Igreja Jesus Virá, Aleluia!...”, onde Talinho Malino de Menezes fazia ponto, submeter a sua mais nova criação ao maior compositor e sanfoneiro da Chapada Diamantina baiana, autor de um livro intitulado “História da Música no Sertão Baiano”. Que, diga-se de passagem, tinha endosso de Maninha de Matos Sampaio, em forma de prefácio (o que não evitou de ser rechaçado pela língua viperina do morfético Aristarco Vieira de Melo, majorengo insuportável, que assinava uma coluna em “Os Sertões”), lhe deitasse um arranjo que só ele sabia fazer.

Toca Filosófica, 31/05/2005

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