GENTE DE CURIAPEBA
Wasculatório conhecera Ovadia de Jesus Jambeiro, assim que chegou a Curiapeba, num dia de grande caganeira, após comer à tripa solta, em companhia do poeta andreense João Emílio Krauser, uma buchada de bode, na casa do padre Joaquim Torres Barrada (espanhol glutão, que se apaixonou perdidamente pelos guisados e docerias regionais). O rapaz foi à farmácia Simpatia, comprar um remédio e topou com a linda moça, que o olhou com enternecimento. Daí por diante, foi um passo e os dois começaram a se gostar. Achou a menina muito bonita: alta, morena clara, cabelos compridos, rosto bem delineado, olhos negros, rasgados, sonhadores, fartos seios e um traseiro (ai, delícia!) invejável... as más línguas professoravam, quando se referiam ao causídico recém chegado:
– Vejam só, o coroinha do padre Cosmorâmico Canindé até que sabe escolher mulher, apesar da feiúra e do seu beatismo. Olhem o rabo invejável da sua namorada!...
Ovadia, todas as manhas, quando ia para o trabalho, ao passar diante da venda da negra Ostoporina Suspirova, coçava a cabeça de um papagaio falador (terror da cidade), que a negra possuía e que ficava empoleirado em um pau, preso à parede e dizia, insultando a ave faladora:
– Papagaio! Pa pa gai o do cu pelado. Dá o pé, papagaio do cu pelado, dá o pé!...
O papagaio revirava os olhos, arrepiava-se todo e não dizia nada. As vezes, olhava a moça com olhos pidões e ficava muito excitado, num verdadeiro estado de êxtase, como que a agradecer a "Deus Nosso Senhor Jesus Cristo", por tanta atenção vinda de uma verdadeira formosura como aquela.
Um domingo, ao saírem da missa das 9, todos em roupa domingueira: Ovadia ao lado de Wasculatório, Dr. Walcírio ao lado de sua esposa, Dona Délia (uma caboverdeana muito viva, muito culta, agitadora cultural e política do lugar), Dr. Antonio Polissílabo Saraiva ao lado de Dona Clotilde e do filho Tavinho que, por sinal, ciceroneavam uma talzinha de Maninha de Matos Sampaio, socióloga arrogante, emproada e sabichona, que nessa época andava às voltas com uma pesquisa de mestrado que versava sobre o fenômeno das religiões no Brasil e o poeta Moisés Amaro Dalva, recém convertido ao catolicismo, que a convite de Wasculatório, foi conhecer Curiapeba, acompanhavam os grandes da terra, que se dirigiam para o centro da praça, ao lado do coreto, onde batiam um ligeiro papo e em seguida cada qual tomava a sua direção.
Ao passarem defronte da venda de Ostoporina Suspirova, Ovadia de Jesus Jambeiro, numa atitude arrebatadora, soltou-se do braço do namorado, caminhou com passos graciosos de mulher bonita ao encontro do papagaio que fazia suas acrobacias virando e revirando-se no pau da gaiola; bateu palmas, como que a chamar atenção de todos para a sua intimidade com o louro e disse, numa entonação acentuada:
– Papagaio! Papagaio. Dá o pé, dá o pé, loro!...
O bicho, que durante anos, nunca respondeu às indagações da moça, virou os olhinhos fosforescentes e perguntou, entortando graciosamente a cabeça para um lado:
– E o cu pelado?... E o cu pelado?...
Deixando a moça em palpos de aranha e os presentes, uns rindo-se à bandeira despregada e outros, caso do poeta Moisés Amaro Dalva, a se benzerem, diante da atitude pouco dócil e imoral da ave pornográfica.
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=40605150
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