sábado, 27 de outubro de 2007

O VAQUEIRO E O DIABO

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http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=40605150

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O VAQUEIRO E O DIABO

Foi o pé do diabo! o diabo andou por aqui!
Álvares de Azevedo

Zé Coco chegou na feira de Curiapeba logo pela manhã. Comprou os trens que a mulher lhe havia encomendado, colocou-os no alforje, amarrou-o atrás da sela, na garupa do cavalo que ficou na entrada da cidade, e voltou para a feira, precisamente para a venda de Olegário Doca, para comer água, juntamente com outros colegas, amantes da branquinha.

Ao entrar na venda, encontrou-se com Cosme Theodoro, Toroco e Felipe Cana Doce. Tomaram a princípio, algumas lapadas de chica-boa e vinho de jurubeba. Cosme Theodoro comprou um litro de querosene, café em grãos, sal, sabão, anil, alguns metros de bulgariana e retirou-se, acompanhado por Toroco e Lunguinho Frajola, debaixo de protesto dos amigos, que diziam:

Véi Cosme, é cedo ainda, home, vamo come água. Num vai agora, não.

Felipe Cana Doce e Zé Coco que estavam já calibrados, viram Timóteo Morubichumbo, Zé Pevide e João Cachorro, todos já altamente alcoolizados e redobraram as doses de chica-boa, agora misturadas com rabo-de-galo, conhaque e outros destilados.

João Cachorro, que era muito arreliento, logo começou a dizer:

Aqui, nessa cabeça-de-porco não tem homem, pois se tivesse pulava em mim, pra ver com quantos paus se faz uma cangalha.

Zé Coço, arrogante, forte e soberbo que nem uma mula, tomou a provocação na unha e deu um trompaço tão grenado em João Cachorro, que o colocou por terra.

Aí, se pôs a contar garganta e a desacatar tudo e todos. Em pouco tempo estava sozinho, os amigos fugiram antes de serem envolvidos em suas arengas. Zé Coco batia na tábua dos peitos e dizia com toda arrogância do mundo:

— Aqui nessa desgraça não tem homem que enfrente Zé Coco. Zé Coco é macho e não maxixe. Do modo que estou enfrento até o capeta, se ele quiser ver que apareça. Vem capeta, se é que você existe. Vem, vem!

A Nega Valei-me tinha uma barraca de comida na feira e se encarregou de dar uma xícara de café sem açúcar ao valentão que, após sorver o amargoso líquido, melhorou um pouco. Sentou-se num banco que havia debaixo de um pé de umbuzeiro da praça, descansou um bom tempo, montou no seu cavalo e seguiu viagem.

No lusco-fusco da tarde, precisamente ao se aproximar de uma encruzilhada, perto do Rio das Voltas, pois ia para Malhadinha, começou a sentir um forte odor de enxofre queimando e logo em seguida o tropel de um animal em disparada. O capiau ficou atento e logo apareceu à sua frente um homem branco, de olhos azuis, muito bem apessoado e puxou conversa. Falava bem e após algumas palavras, retesou-se todo, passou a soltar fogo pelas ventas e perguntou:

Você sabe quem sou eu?

Sei não, sinhô - disse Zé Coco acovardado, num verdadeiro cagaço.

Pois fique sabendo que sou o diabo, a quem você chamou há pouco, na feira de Curiapeba.

Tesconjuro — disse o matuto.

O diabo fez uma careta para o sertanejo, deu um peido, acompanhado de uma gaitada debochada e evaporou-se mata adentro, juntamente com seu cavalo negro, deixando o vaqueiro perto de um ataque de nervos e ao mesmo tempo imaginando que o diabo não é tão feio como se diz.

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