sábado, 27 de outubro de 2007

COMO SÃO ROQUE SE TORNOU PADROEIRO DE CURIAPEBA

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http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=40605150

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COMO SÃO ROQUE SE TORNOU PADROEIRO DE CURIAPEBA
(de uma estória popular)

Contam os mais velhos moradores de Curiapeba, que em 1897, quando ainda reboavam nos contrafortes da Serra de Itiúba os estrondos dos canhões do General Artur Oscar, destruidores do povoado de Canudos, que o padre Giracino Bembém de Arruda Real, filho de tradicional família fundadora da cidade, juntamente com o prefeito Ciríaco Fernandes Sobrinho, também de cepa abastada da redondeza, famosa pelos latifúndios e o farto criame de gado zebu, resolveram escolher para padroeiro da cidade, São Roque, pois, além de prestarem uma homenagem ao pai do prefeito, era, segundo os dois, um santo milagreiro e muito sério.

Assim munidos de tamanho ideal patriótico, enfeitaram a cidade para o evento, aproximante. Pintaram e embandeiraram a Praça Gregório de Matos, onde fica a igreja.

Ciríaco Sobrinho, muito católico, anteviu naquela cerimónia festeira um meio de recuperar o tempo perdido e se promover junto aos munícipes e a outras cidades vizinhas: afinal se aproximava o término do seu governo inexpressivo e o alcaide sonhava se eleger deputado, pelo seu Estado, nas futuras eleições.

Após discutirem o plano no Salão Dois de Julho da prefeitura, ficou acertado que depois dos panegíricos do prefeito e do juiz, seria a vez de o padre Ciracino derramar a sua oratória barroca em cima dos fiéis. Teria de fazer um discurso comovente, político e não se esquecer de mencionar por várias vezes o nome do santo padroeiro, a fim de ficar indelevelmente gravado na mente de cada fiel. Ciríaco Sobrinho temendo que o padre, mesmo sendo homem da sua confiança, não enfatizasse como deveria o nome do santo, propôs-lhe que cada vez que o nome fosse pronunciado, o vigário ganharia a importância de cinco mil-réis. O padre, ao despedir-se do alcaide, foi para casa com aquele dinheirame na cabeça e passou a pensar o discurso que teria de ser improvisado, na melhor maneira baiana, como era do seu costume. Na hora H, após o discurso vibrante, inflamado e patriótico de Ciríaco Sobrinho e do meritíssimo Dr. Armandino Cattelão da Silva Dourado, o padre todo paramentado, subiu ao púlpito, fez uma mesura, temperou a guela, esfregou as mãos e suspendeu a direita em forma de bom declamador e irrompeu com seu vozeirão rouco e pausado:

Meus filhos, bom povo de Curiapeba, como todos nós sabemos, hoje é dia de São Roque (pensou consigo mesmo, pingou cincão no meu bolso) e assim sendo, aqui estamos nesta manhã maravilhosa, para inaugurarmos a igreja de nossa cidade, cujo patrono é o milagroso São Roque (mais cinco = dez). São Roque andou com São José e Maria, mãe do Menino Jesus pelas terras da Palestina e cada vez que o nosso São Roque pegava no serrote, para aparar uma tábua ou uma viga, se ouvia o serrote de São Roque fazer: roque, roque, roque, roque!

E assim prosseguiu o padre Giracino Bembém de Arruda Real na sua oratória redundante e repetitiva até que o prefeito Ciríaco Fernandes Sobrinho, já vendendo azeite às canadas e ao mesmo tempo assustado com a fertilidade inventiva do vigário, levantou a mão a fim de que ele parasse o discurso que já estava se tornando quilométrico e caro em demasia para os dilapidados cofres públicos da pobre Curiapeba.

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