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(de uma estória popular)
Assim munidos de tamanho ideal patriótico, enfeitaram a cidade para o evento, aproximante. Pintaram e embandeiraram a Praça Gregório de Matos, onde fica a igreja.
Ciríaco Sobrinho, muito católico, anteviu naquela cerimónia festeira um meio de recuperar o tempo perdido e se promover junto aos munícipes e a outras cidades vizinhas: afinal se aproximava o término do seu governo inexpressivo e o alcaide sonhava se eleger deputado, pelo seu Estado, nas futuras eleições.
Após discutirem o plano no Salão Dois de Julho da prefeitura, ficou acertado que depois dos panegíricos do prefeito e do juiz, seria a vez de o padre Ciracino derramar a sua oratória barroca em cima dos fiéis. Teria de fazer um discurso comovente, político e não se esquecer de mencionar por várias vezes o nome do santo padroeiro, a fim de ficar indelevelmente gravado na mente de cada fiel. Ciríaco Sobrinho temendo que o padre, mesmo sendo homem da sua confiança, não enfatizasse como deveria o nome do santo, propôs-lhe que cada vez que o nome fosse pronunciado, o vigário ganharia a importância de cinco mil-réis. O padre, ao despedir-se do alcaide, foi para casa com aquele dinheirame na cabeça e passou a pensar o discurso que teria de ser improvisado, na melhor maneira baiana, como era do seu costume. Na hora H, após o discurso vibrante, inflamado e patriótico de Ciríaco Sobrinho e do meritíssimo Dr. Armandino Cattelão da Silva Dourado, o padre todo paramentado, subiu ao púlpito, fez uma mesura, temperou a guela, esfregou as mãos e suspendeu a direita em forma de bom declamador e irrompeu com seu vozeirão rouco e pausado:
– Meus filhos, bom povo de Curiapeba, como todos nós sabemos, hoje é dia de São Roque (pensou consigo mesmo, pingou cincão no meu bolso) e assim sendo, aqui estamos nesta manhã maravilhosa, para inaugurarmos a igreja de nossa cidade, cujo patrono é o milagroso São Roque (mais cinco = dez). São Roque andou com São José e Maria, mãe do Menino Jesus pelas terras da Palestina e cada vez que o nosso São Roque pegava no serrote, para aparar uma tábua ou uma viga, se ouvia o serrote de São Roque fazer: roque, roque, roque, roque!
E assim prosseguiu o padre Giracino Bembém de Arruda Real na sua oratória redundante e repetitiva até que o prefeito Ciríaco Fernandes Sobrinho, já vendendo azeite às canadas e ao mesmo tempo assustado com a fertilidade inventiva do vigário, levantou a mão a fim de que ele parasse o discurso que já estava se tornando quilométrico e caro em demasia para os dilapidados cofres públicos da pobre Curiapeba.
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