sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A CHEGADA DA IGREJA “JESUS VIRÁ, ALELUIA!...” À CURIAPEBA

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A CHEGADA DA IGREJA “JESUS VIRÁ, ALELUIA!...” À CURIAPEBA

Quando os missionários da igreja “Jesus Virá, Aleluia!...” apareceram em Curiapeba, causaram muitos rumores e polêmicas, primeiro por ser a região católica, devota de São Roque e Senhora Sant’Ana; a batalha foi renhida. Os padres Cosmorâmico Canindé e Navalhondo Rodovalho advertiram os fiéis sobre o Anticristo, os falsos profetas. Só que o proselitismo dos missionários protestantes era mais intenso, mais eficiente e falava com mais ênfase a respeito dos castigos do céu e do fogo do inferno, fora as curas mirabolantes efetuadas pelos pastores, destacando-se entre eles o pastor Genocídio Geronso Garrafino, homem bonito, falante, chegado diretamente de São Paulo, que era um orador fogoso, arrebatado.

Em pouco tempo, construíram um dos templos mais bonitos de Curiapeba, na Praça das Boiadas, onde adquiriram um grande terreno de esquina, pertencente à família Dromedário Carmelinho e, em casa própria, desenvolveram um grande trabalho de evangelização e arrecadação, a fim de recuperar o que gastaram na construção do templo do Senhor, em tempo recorde. Os pregadores revezavam-se nos cultos por todo o dia e boa parte da noite. Era uma gritaria dos diabos, que servia de chacota para os incrédulos, os inimigos da palavra de Deus, que logo os apelidaram de “bodes”, “terninhos”, “gravatinhas”, etc. Os missionários, em geral, rapazes bem apessoados, bem vestidos, sempre de ternos, gravatas e camisas branquíssimas. Falavam bem e eram mestres na arte de convencer. Ou melhor dizendo, eram exímios vendedores da fé. Nos cultos, pediam dinheiro, animais e carros.

O velho Traumaturgo Alcandorado Varonil, homem culto e quase pobre, quando soube dos pastores, a princípio fez mofa. Proclamou-se ateu de carteirinha, vacinado contra qualquer doutrina, porém, com o passar do tempo, foi dar uma espiadinha. “Ver os charlatães”, como disse de início. O certo é que se convenceu que ali estava a verdade e em pouco tempo tornou-se fanático a ponto de brigar com a família, que não estava de acordo com seus novos pontos de vista. Tinha um grande terreno, onde estava a casa. Quando o primeiro filho casou-se, quis construir ao lado, sendo desautorizado pelo velho, que argumentou ter outros planos para aquele terreno. O rapaz desistiu da idéia, alugando uma casa em outra vila, onde construiu o seu lar. Em seguida, a filha mais nova, Barbantina da Luz, casou-se e teve a mesma resposta, quando pretendeu construir no terreno. Por fim, um dia, o velho reuniu a família e argumentou num rompante patriarcal:

– Chamei vocês aqui para comunicar que, de hoje em diante, este terreno passará a pertencer à igreja “Jesus Vira, Aleluia!...” O pastor Genocídio vai fazer aí mais uma igreja para adoração do nosso Deus. Aristarco, filho mais velho se opôs dizendo:

– Meu pai, como é isso? Veja que este terreno também nos pertence. O senhor não permitiu que eu construísse aí e agora vai dar o terreno para a igreja, que não precisa. Como vamos ficar?

– Caso encerrado! – Quem canta aqui ainda é o galo! – disse o velho irado, com cara de quem tudo pode.

Barbantina da Luz com outros irmãos quiseram argumentar apoiando Aristarco, porém foram silenciados por um “não quero mais saber dessa conversa. Caso encerrado. O terreno pertence à igreja e não se fala mais nisto” – dito pelo velho, que em seguida levantou-se, possuído por todos os demônios e abandonou a sala.

O pastor Genocídio Geronso Garrafino, em pouco tempo, contratou um engenheiro da Prefeitura, e foram medir o terreno, fazer o esquadrejamento e cuidar da planta a fim de construir o novo templo do Senhor, o mais breve possível.

Aristarco com Mirinho, Amélia e Barbantina da Luz, ao tentarem convencer o pastor de que eram os legítimos herdeiros daquele terreno, tiveram como resposta as seguintes palavras:

– Meus simpáticos rapazes, senhora e senhorita, seu pai, o irmão Traumaturgo Alcandorado Varonil (que lindo nome, meu Deus), está em pleno domínio das suas faculdades mentais e acha que a obra de Deus precisa mais deste terreno do que vocês que, por certo, ao tomarem conta disso, acabarão vendendo a preço de banana, para gastarem o dinheiro com coisas ilícitas. Aleluia, Jesus!

Alguns seguidores do pastor fecharam os olhos e gritaram quase em êxtase, com vozes estridentes:

– Aleluia, Jesus! Glória a Deus!...

E, diante da maluquice do velho, com setenta e cinco anos de idade, e o firme propósito do pastor Genocídio Geronso Garrafino de se apossar da terra, não restou outra alternativa aos filhos do velho Traumaturgo Alcandorado Varonil senão recorrer aos serviços dos doutores Antonio Polissílabo Saraiva e Walcírio Toneleiros Waluá, brilhantes advogados da cidade que, após ruidoso processo, obtiveram ganho de causa para seus legítimos donos, deixando assim o pastor Genocídio Geronso Garrafino desapontado com a idéia de construir mais um templo da igreja “Jesus Vira, Aleluia!...” em tão privilegiada Praça de Curiapeba. Acredito que nessa hora, no céu ou no inferno, o velho Traumaturgo Alcandorado Varonil esteja pelejando, com as autoridades competentes; a volta do seu terreno para a tutela do pastor Genocídio Geronso Garrafino e para as glórias de Jesus.

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