sexta-feira, 26 de outubro de 2007

CATARINA DE MÉDICIS

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CATARINA DE MÉDICIS

Catarina de Médicis! É isso mesmo, teve esse nome devido ao pai ser dado às leituras dos romances pseudo-históricos de Honoré de Balzac, pedidos pelo Correio em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Toda Curiapeba, por causa dos livros, tinha Seleto da Costa na conta de abilolado, meio gira, virado da bola. Ao nascer a sua primogênita, não teve dúvidas, arrumou os padrinhos (Athanázio Valovelho Clepaúva e sua esposa Medievalina Bilac Valovelho) e levou a menina à igreja de São Roque, na Praça das Aroeiras, a fim de ser batizada. O padre Giracino Bembém de Arruda Real, célebre pela sua oposição aos nomes esdrúxulos, foi logo se opondo:

– Seleto da Costa, meu filho, basta de esdrúxulo o teu nome. Você sabe quem foi Catarina de Médicis?

– Seu padre, só quero que a minha filha se chame Catarina de Médicis. O resto não me interessa.

O padre Giracino Bembém de Arruda Real tentou dissuadi-lo, porém o homem, que não estava para conversa mole, foi ameaçando:

– Quando é para bater na minha porta em busca de auxílio para sua igreja o senhor sabe fazer, mas na hora de mostrar serviço, fica com exigências. Ou o senhor batiza ela com o nome que eu escolhi ou levo-a para Jacobina e em seguida fecho a tampa da minha burra para a sua igreja.

O padre, de crista caída, temendo cair em desgraça junto ao poderoso ricaço, não teve outra alternativa a não ser batizar a infante com o extravagante nome que o pai ditara-lhe.

Catarina de Médicis cresceu bem nutrida e totalmente analfabeta, embora rica e bonita. Sempre dizia Seleto da Costa, com sua ranzinzice matuta:

– Mulher não precisa aprender a ler. Precisa é de um bom casamento.

E assim Catarina de Médicis casou-se cedo e, após a morte do patriarca e o inventário ruidoso, cheio de disputas jurídicas, que encheram os bolsos dos advogados Antonio Polissílabo Saraiva e Walcírio Toneleiros Waluá, os poderosos da Costa empobreceram dum dia para a noite. Catarina de Médicis, que sofria de prolapso retal e padecia muito com a doença, foi consultar um médico em Salvador, que lhe receitou alguns medicamentos. Ao voltar à Curiapeba, achou que os remédios do clínico eram bobagens e procurou um curandeiro famoso da região, Francinaldo Silveira, que atendia no nº 6-b, da rua Tenente Cel Antônio Tupi Ferreira Caldas, no bairro do Putumuju, que lhe receitou algumas garrafadas e uns banhos de assento, tiro e queda na cura de tais padecimentos e que tinha os seguintes ingredientes: uns três litros de água de tanque apanhada em moringa virgem, na primeira noite de lua minguante, uma barra de sabão de dicuada, uma mão cheia de fumo de rolo desfiado, meia garrafa de catilóia, duas pimentas malagueta tamanho grande, cinco dentes de alho roxo, uma colher de sal grosso, outra colher de vinagre de banana de São Tomé e cinco ramos de urtiga branca. Cozinhar tudo por algum tempo, coar, deixar esfriar e tomar um banho de assento com a água ainda morna.

Catarina de Médicis fez o que o catimbozeiro lhe mandou e ficou em estado deplorável, mesmo às portas da morte, não fossem os cuidados do abnegado Dr. Arlindo Canoeiro Gesteiras, que foi chamado às pressas a fim de aliviá-la do ardor cruel, acompanhado de febre altíssima que lhe incendiava os países baixos.

Toca Filosófica 09\05\1996

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