sábado, 27 de outubro de 2007

O HOMEM QUE LIQÜIDOU UM TROVÃO A TIRO DE CLAVINOTE

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http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=40605150

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O HOMEM QUE LIQÜIDOU UM TROVÃO A TIRO DE CLAVINOTE

Delorido da Silva, uma espécie de capataz da Fazenda Ouricuri do Norte, num sábado, após a feira de Curiapeba, montou sua burra cardã e seguiu viagem rumo à fazenda. Após alguns goles de catilóia, deixou a cidade já ao anoitecer, com o brilho estranho, fantasmagórico, de uma meia-lua mofina, que anunciava chuva dentro de alguns instantes.

O tabaréu vestiu a capa boiadeira, que trazia na garupa da cela, a fim de proteger da chuva o clavinote que carregava para o caso de uma emergência. Já havia cortado muito sertão, quando uma chuva torrencial, com muitos ventos, raios, relâmpagos e trovões desabou sobre a terra, deixando o viajante apreensivo. A certo ponto da estrada, após um relâmpago incendiário ter cortado o céu de norte a sul, avistou a sua frente duas montanhas em forma de bola de neve - uma monumental, grandalhona, estúpida, e outra menorzinha - que tomavam quase toda a totalidade da estrada. O homem, ao se aproximar das inusitadas bolas, teve a impressão de não haver condição de passagem, pois a bola grande tomava mais da metade do caminho, e a menorzinha, por sua vez, não lhe permitia esgueirar-se pelo lado direito do terreno, que era esconso, despenhoso. Delorido da Silva, muito assustado, indagou, como se interrogasse uma pessoa:

– Quem vem lá? É de paz?...

Nenhuma resposta. Mas, a seu ver, as bolas passaram a se mover em sua direção. Teve mesmo a sensação de ter ouvido estas palavras saídas da boca de uma delas:

– Pega ele, pega ele!...

Delorido da Silva, que há muito já estava de cabelos arrepiados, não vacilou um só minuto, puxou o clavinote de debaixo da capa e atirou na bola menor, que produziu um forte estrondo, acompanhado de uma luz azulada, que jogou o homem, juntamente com a alimária, a alguns metros de distância, em cima de uns pés de unha-de-gato. Em seguida, após levantar-se todo enlameado por um barro vermelho, pegajento, apanhou a espingarda e cautelosamente aproximou-se da segunda bola, onde constatou, segundo suas conjecturas de matuto, tratar-se de um trovão caído e não explodido, que ao ser ferido pelas balas do clavinote sofreu a desintegração, deixando o homem horrorizado e ao mesmo tempo agradecido a São Roque e Senhora Sant'Ana, padroeiros do lugar, por não ter ele atirado logo de cara no trovão maior, de explosão fulminante, que por certo lhe teria acabado de uma vez por todas.

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