sexta-feira, 26 de outubro de 2007

TALINHO MALINO DE MENEZES E ARISTARCO...

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TALINHO MALINO DE MENEZES E ARISTARCO VIEIRA DE MELO MEDEM FORÇAS EM CURIAPEBA

Talinho Malino de Menezes e Aristarco Vieira de Melo nunca se deram bem. Talinho detestava o jornalista que, a seu ver, metia o bico onde não lhe era permitido. Aristarco, por sua vez, não era injusto, mas só se referia a Talinho Malino de Menezes no seu jornal “Os Sertões” com reservas. Mesmo assim, chegou a ser simpático a algumas de suas composições. Viu mesmo qualidades nos seus primeiros baiões, passando a espinafrá-lo quando o músico, insuflado por um certo Artúrio Quiroga y Orozco e sua mulher, Berenice Orozco Villas, naturais de Porto Rico, levaram alguns intelectuais baianos a se interessarem pelo que havia de mais rebarbativo produzido na América Central. Foi aí que Talinho Malino de Menezes e até mesmo a experiente e sempre louvada Maninha de Matos Sampaio aderiram às propostas dos porto-riquenhos e passaram a compor seus trabalhos segundo normas dos dois, que cagavam regras e patrocinavam viagens dos brasileiros a Porto Rico.

Talinho, numa dessas viagens, embriagado pela gaiva dos estrangeiros, ao voltar à Bahia, cheio de ritmos antilhanos, passou a compor guarachas e rumbas, sempre obedecendo ordens dos patrocinadores. Por essa época, já havia escrito e publicado “História da Música no Sertão Baiano”, que, mesmo com o prefácio de Maninha de Matos Sampaio não evitou que fosse vivamente malhado por Aristarco Vieira de Melo. Talinho, instigado por Dona Berenice, escreveu um novo livro: “A Música em Porto Rico”, um trabalho sem consistência que, ao ver de Aristarco Vieira de Melo, “estava além do ridículo”, passando a ser alvo das ferrenhas alfinetadas do jornalista. Isso fora a gota d’água que reacendeu ódios quase mortais dos porto-riquenhos contra o editorialista. Diziam as más línguas que chegaram a tramar um plano para matar Aristarco que, por sua vez, possuía muitos desafetos em toda a redondeza.

Aristarco não se acovardou diante das ameaças e redobrou as críticas. Sempre que se referia a Talinho Malino de Menezes no seu jornal, não se esquecia de chamá-lo de “o caribenho de Madame Berenice”, lançando semanalmente estocadas cruéis, tanto no compositor e sua música, como no seu livro, patrocinado pelos mecenas caribenhos, que redundou em verdadeiro fracasso. Nessas catilinárias o escriba de “Os Sertões” não se esquecia de alfinetar também Maninha de Matos Sampaio e seu novo livro, de “estilo duvidoso, fina flor da mediocridade”.

Os insultos foram crescendo de ambos os lados. Os disse-que-me-disse corriam mundo. Aristarco levava sempre a melhor, por ser um excelente jornalista e saber dizer as coisas com graça e leveza, o que contaminava qualquer leitor, mesmo os admiradores mais ferrenhos de Talinho Malino de Menezes. “Os Sertões”, que saía aos sábados, era disputadíssimo, onde se lia as tiradas contra Talinho e sua “turma caribenha”, que se reunia no Bar da Orgasmunda Pereira Cruvaldina, ali na Praça das Boiadas, em frente ao Bar do João Emílio Krauser, ninho dos simpatizantes de Aristarco Vieira de Melo. As coisas foram se azedando e num sábado, véspera de Natal, após Curiapeba se rir à bandeira despregada das tiradas estampadas em “Os Sertões”, contra Talinho Malino de Menezes e seus patrocinadores, os agredidos, não suportando a chalaça do jornalista, esperaram que esse desse as caras no Bar do João Emílio, o que aconteceu logo após o meio-dia, justamente no auge da feira, a fim de lhe darem um corretivo memorável. Os simpatizantes de Talinho Malino de Menezes, tendo à frente os famanazes João Cachorro, Virgolino Bodão, Tuntunca Muquirana, Felipe Cana Doce, Coreiro e mais alguns cabras marginais da região, agrediram o jornalista com pontapés e empurrões, até que o mesmo, após muito deixa-disso por parte dos presentes, evadiu-se já bastante machucado e refugiou-se numa sala dos fundos do bar. Mesmo assim, o furdunço não parou e as facções se esgoelavam, cada qual defendendo o seu líder. Muitos feirantes entraram na briga e foi um verdadeiro deus-nos-acuda, provocando um terrível corpo-a-corpo no meio da praça, que deixou braços fraturados, caras quebradas, barracas destroçadas, com bandas de porco e bode, sacos de farinha, fava, rapadura, potes, quartinhas, imagens do Senhor Bom-Jesus-da-Lapa, Padre Cícero, Senhora Sant’Ana e tantos outros objetos destroçados, que nem se por ali tivesse passado uma boiada. Talinho teve uma perna luxada, Maninha de Matos Sampaio, por querer apaziguar os ânimos, recebeu uma porrada tão grenada que lhe extraiu dois dentes superiores. Virgolino Bodão recebeu um tremendo cangapé nos quibas, que o deixou às portas da morte. A Praça das Boiadas virou um verdadeiro campo de guerra. O advogado Wasculatório Toneleiro Waluá, por ser um sujeito metido à besta, antipático, não entrou na briga, mas como ia passando pelo local na hora, acompanhado pelo pastor Genocídio Geronso Garrafino, que acabara de sair da “Igreja Jesus Virá, Aleluia!...”, recebeu um vibrante trompaço, não sabendo nem mesmo de onde viera, que o deixou desacordado. Foi aí que o Cabo Faconeris de Oliveira, juntamente com seus soldados, entrou em cena, distribuindo cacetadas medonhas a torto e a direito, a fim de pôr um basta naquela baderna generalizada. A coisa, quase fora de controle, só teve fim quando o Coronel Benvindo dos Santos Arruda Real, da sacada do seu sobrado, deu alguns tiros de trabuco e fez com que os ânimos se arrefecessem. Quando a poeira baixou, deram por conta que havia dois mortos entre os feirantes e o jumento Marinheiro, do velho Corme Theobaldo Caçapeva, tinha sido esfaqueado e agonizava num canto da Praça dos Jatobás. Enfim, uma pequena arenga entre dois intelectuais de respeito da cidade provocou um tendepá dos diabos, só comparado aos furdunços homéricos, dos tempos dos Coronéis Dromedário Carmelinho e Quincas Boaventura Medrado e Silva, homens de cabelos nas ventas, capazes de matar e morrer em nome dos seus próprios interesses e das suas facções políticas.

Toca Filosófica, 24/09/2005 (Inverno)





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